Uma jovem de 24 anos que mora em Manaus e viu a mãe, idosa, com quem divide o apartamento, se vacinar contra a Covid-19, decidiu que também precisava se imunizar, mesmo que ainda não tivesse chegado sua vez na fila. O motivo: apesar de estar desempregada e quase não sair de casa, tinha receio de passar a doença para a mãe. Obesa, ela não se encaixava, porém, nos critérios de comorbidades, porque o seu IMC está abaixo de 40. Resolveu, então, procurar uma médica amiga da família, que fez um atestado falso.
A história, contada por Pietro Victor Nascimento, que não concordou com a atitude da amiga, é uma das inúmeras que têm circulado nas redes sociais.
“Ela me falou isso com uma naturalidade tão grande. Não bate um peso na consciência, né? As pessoas estão confundindo as coisas, estão se priorizando. Tem uma galera muito irresponsável. É tão absurdo que fico sem ter o que dizer. As pessoas não pensam nos outros, não têm empatia”, diz o empreendedor.
Nas últimas semanas, denúncias “informais” na internet têm se proliferado. Além das reclamações de familiares e amigos com casos similares, médicos também contam que têm recebido pedidos para laudos falsos de pacientes.
O médico que atende a esse tipo de pedido descumpre o artigo 80 do Código de Ética e pode responder a um processo ético-profissional, com penalidade máxima da cassação do registro profissional. A pessoa que solicita esse documento falso também pode ser punida.
Para o médico Gerson Salvador, especialista em infectologia e autor do livro “O pior médico do mundo”, os conselhos regionais deviam agir com mais proatividade.
“Os conselhos têm sido omissos. Na pandemia, a gente também tem visto médicos prescrevendo medicamentos ineficazes e potencialmente tóxicos. Os conselhos não têm nenhuma atitude para orientar práticas éticas das prescrições. Muito pelo contrário. Até relativiza de uma maneira corporativista”, afirma.